quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Esta poesia encontrei em um site de poesias goticas e achei muito interessante! CURTAM!!!!!

O VELHO NAVIO
Era uma tarde de mar calmo, de águas espelhadas, pálidas pela luz do fim de tarde.
O vento não soprava, e não havia no céu nenhuma nuvem.
O velho navio singrava suave como se deslizasse pelas águas vitrificadas,
seguido de um roncar surdo do velho motor no inferior de sua popa. Rumava em direção ao por do sol e desenhava em sua retaguarda, um rastro de pequena turbulência provocada por suas hélices. Era um navio realmente velho. Seu casco todo enferrujado, trazia marcas de sua trajetória em cada porto por onde passou; seu nome já não se distinguia entre a ferrugem.
Seu calado, já enfraquecido pelo tempo, a água salobra do mar e as
pesadas cargas que transportara desde muito tempo, rangia com os ferros
de sua estrutura resvalando uns nos outros pelas folgas entre as peças.
O som do ferro se perdia ao longe, ao longo do seu percuso.
Raramente se via os tripulantes na proa ou em toda a extensão do lado
externo, mas quando apareciam, era impossível não deixar de se
surpreender por seu aspecto.
Olhares sempre voltados para o infinito, sempre buscando algum ponto,
algum referencial.
E a expressão da face justificava o olhar. Era como se esperassem por algo;
como se esperassem por uma resposta que no fundo da alma sabiam
que jamais chegaria.
Expressão de angústia profunda, mesclada com um medo interior, um medo
intenso, todavia, sem saber do quê. Eram como corpos sem o vigor da vida,
sem ânimo e sem vontade; andar pesado e lento, como se contassem os
passos; nunca se falavam e nunca trocavam olhares.
Era como se um não notasse a presença do outro, ou não fazia diferença
o outro estar ali.
As roupas pregadas ao corpo encurvado, como se levasse o peso do
mundo nas costas, e não dormissem há tempos e tempos.
Era como a visão de um ataúde flutuante, e que levava seus ocupantes
para uma viagem eterna até seu descanso final no seu túmulo que
seria o próprio mar.
Ninguém guiava a embarcação; ela seguia sempre em rumo próprio,
levando seus ocupantes, os condenados por um crime imperdoável
até seu destino frente a frente com seu algoz.
No fim da tarde, quando os últimos raios pálidos de sol refletiam moribundos,
sobre a água, veio do leste grande nuvem negra e medonha seguida
de forte vento que agitava o mar com vagas enormes e violentas.
Os olhares dos tripulantes voltaram-se para estibordo com grande terror.
Viam ali chegando, seu carrasco impiedoso e insaciável, com grande fúria,
executar a ordem capital, a sentença injustificada de um juiz frio e cruel.
Expressões horrorizadas estamparam os rostos dos condenados com
uma angústia que vinha do mais profundo recôndito da alma, aflorar
nos nervos e em todas as articulações daqueles corpos trêmulos e já
sem nenhuma força.
O forte vento logo deu origem a um enorme ciclone, fazendo o barco
ficar bem ao seu centro. Grandes correntes de ventos varriam a embarcação,
ondas enormes lavavam o convés; a embarcação pendia de um lado a outro,
e em certos momentos, parecia que viraria. Os tripulantes já sem a mais
remota das esperanças, ainda seguravam-se na amurada, mas por puro
instinto, e não por esperar salvar suas almas da mão do impiedoso destino.
Meia hora depois do início, a tempestade chegou a seu apogeu. A escuridão
era total, e o que se via de longe, era uma pálida luz que vinha do interior
do barco.
Seus tripulantes se refugiaram até então em seu interior; o navio
mergulhava por completo sob as vagas, e tempo depois, voltava à tona,
como um ser que, se afogando, busca desesperadamente encher seus
pulmões de ar para conseguir sobreviver por mais uns instantes debaixo
da água. O vento se acercava mais e mais, tudo estava acabado!
Não havia mais o que esperar.
Em um desses mergulhos violentos, a grande e negra embarcação sucumbiu
ao furor da matéria, e deixou o mundo da superfície para traz, para nunca
mais voltar.
E o que se viu num último relance, foi o rosto de um dos tripulantes
colado em uma das janelinhas de vidro, olhando para fora, quando o navio
já deixava o mundo de cima, com a expressão de um rosto que faz
um vivente quando a alma parece querer sair de dentro do corpo através
dos olhos.
Uma expressão de dor, angústia e medo; a expressão de quem olhava
tudo aquilo acontecer, e impotente, contra seus algozes, apenas olhava
em um último instante para lhes perguntar
“por que?”.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Ouves- me Lucy?(Mais um pouco)

...



rilke escreveu que; …amar é uma ocasião sublime concedida ao indivíduo para que ele possa amadurecer, tornar-se qualquer coisa dentro de si, tornar-se mundo, tornar-se mundo para si em nome de um outro…, sublime a definição. só que o caminho de aprender a amar é longo, não se resume à união entre dois seres. é necessário fazer uso de todo o querer e força, há muito para esclarecer e compreender, e em muitos momentos pela vida toda, é um caminho solitário. mas fazemos batota, saltamos etapas, facilitamos, e acabamos como única enguia que resta, numa poça de água estagnada no leito de um rio seco pelo estio.

lucy, a esta hora sei que não me ouves porque dormes, o teu dia foi extenuante, quase nem jantaste e foste deitar-te. e eu que apesar de ter tido um dia igualmente cheio, não resisto à minha necessidade de ficar por aqui a costurar desassossego. nesta pose nocturna de amante à espera que o sono se dispa e me leve com ele para a cama. inclino-me sobre as palavras que estendem o corpo nas linhas, para que eu possa dizer uma vida inteira absolutamente repartida. onde a sombra das dúvidas e o incerto nos interrompem o caminho de amar. respiro este silêncio de pedra que a noite me serve completamente nua de gestos.

nesta impossibilidade de estares comigo, entrego-me a escrever como se deitasse um olhar ao teu corpo e sustentasse o meu desejo. posso dizer que te amo sem enfrentar a negação do teu rosto. porque no teu corpo eu queria verdadeiramente dissolver-me até ao mais profundo do teu instinto. agora que verdadeiramente te escrevo no intento de aquecer o frio. incendiando o leito que partilhamos com o ardor do surto amoroso que um dia nos uniu. é nestas confidências quase adolescentes que às vezes me protejo, evitando o esquecimento e o deserto interior – demasiado lúcido é o vazio.

o vento uiva lá fora incessantemente dando voz aos sonhos em ruína por todo o universo. qual síntese da minha vida às avessas, nirvana da minha alma. a minha angústia clandestina que não me é permitido confessar publicamente – coisa de frouxos – segundo a lei social vigente. só eles; os frouxos, é que podem ter o descaramento e a fraqueza, de coexistir com a sensibilidade. e podem, por já estarem condenados a pena perpétua. o ceptro da aparência é soberano e impiedoso, brutal e indiferente. não podemos ser em público o que somos no refúgio da alma, porque a ambição odeia contacto da alma com a vida.

ardem-me os olhos, arde-me o corpo desde onde começa até onde termina, nas extremidades o ardor é mais agudo. e quanto mais a minha vida se dilata, mais avultam os defeitos. coisas da fraqueza e desatenção, a tragédia singular da banalidade de uma vida comum. os sonhos intrometem-se na vida e a vida priva-nos deles. só os que têm a coragem de enfrentar o julgamento e cumprir a pena, são capazes de sonhar verdadeiramente, porque acreditam no que sonham, e acreditar no que se sonha, é acreditar que se pode ser feliz.



...

Antonio Paiva

http://www.antoniopaiva.net

Sem Titulo

Tenho consciência que durante esta minha existência, tenho magoado muitas almas e talvez tenha contribuído para a felicidade de um punhado delas, mas não tomo este último facto como um dado adquirido, muito menos como uma verdade irrefutável, não tenho descaramento para tanto.

Tento ajustar o meu perfil de carne e osso, ao paradigma de uma existência com algum sentido, não julguem que estou a fantasiar com um pseudo problema insignificante, estou sobretudo a tentar ser leal comigo próprio, para ser o mais claro e lúcido para com os outros, pois só o receio de não corresponder ao sonho de mim mesmo, já me deixa angustiado.

Como eu gostava de transportar no meu bolso, até ao último dos meus dias, uma gaivota com o sol pendurado no bico, para a soltar nos lugares sombrios por onde passo, por onde me detenho, não apenas num acto egoísta, mas para a poder partilhar desinteressadamente com quem dela necessitar tal como eu.

Bem sei que alguns esboçam sorrisos velhos, perante este meu palrar de cabeça vazia (ou não), quantas vezes me estendo na enxerga com os ossos doridos, oco nunca, parvo às vezes, mas recorrendo ao lugar comum, inventado a preceito para justificar fraquezas humanas - ninguém é perfeito, quantas vezes vem mesmo a calhar, suscitando um despropositado clamor de aplausos comungado por todos (mesmo os que o negam) em histérica estupidez passiva e vulcânica, levada ao rubro pelos bichos pensantes.



Estranha forma de olhar, dirão, nem concordo nem discordo, seja lá como for, utilizar a inteligência que temos ao serviço dos instintos bem perceptíveis, conscientes que a vida é uma moeda com duas faces, de um lado a reflexão solitária e fria mas humana, do outro a tendência para teatralizar ou ainda fazer de conta, enfim, mas tudo misturado dá a história de uma existência, mais, ou menos, interessante, pelo menos é assim que eu vejo as coisas.



Antonio Paiva

http://www.antoniopaiva.net

Encontrei este monólogo e achei q seria enteressante postar, espero q gostem.

sábado, 12 de dezembro de 2009

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domingo, 6 de dezembro de 2009

ESPETÁCULO: OLHE PARA OS LADOS




16 a 19 de dezembro no Teatro José de Alencar
Entrada Franca
Venha nos Prestigiar!